segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

E por falar em saudade...

Tudo bem. Confesso. Sempre fui muito saudosista. Daquelas ao extremo mesmo.
Sabem o que eu fiz numa madrugada dessas? Resolvi colocar meu antigo videocassete pra funcionar. Sim, sou nostálgica até mesmo em relação a equipamentos desatualizados, adoro estilo retrô, adoro ouvir toca-discos e meus discos de vinil tocando músicas antigas, adoro antiguidades e todos esses cacarecos antigos... Resolvi então desencalhar umas velhas fitas VHS e olhei todas... Olhei a minha formatura, os três primeiros anos de vida do meu filhote e revivi momentos que ficaram para trás, tão mofados quanto as fitas que desencalhei do fundo do baú... Fiquei até as 6hs da manhã olhando tudinho! E pensando na vida... Em mim, nas pessoas que passaram pela minha vida e aparecem nas gravações e que hoje sequer sei onde andam, naqueles que já se foram mas que por amor estarão sempre perto, no meu filho que hoje está tão grande a ali aparece um bebê, o meu bebê... e em um monte de nostalgias, hehehe! Como o tempo passa, não é?! Nós aparecemos ali com uma carinha que hoje não temos mais, com corpos que também não são mais os mesmos e com roupas que hoje eu talvez não usaria.
Tudo bem, eu sei. Uma hora dessas tenho que filmar vídeos novos, com novos registros. Temos inevitavelmente que olhar para frente. A vida passa, sem cessar. Mas, confesse
você também, de vez em quando vai dizer que não é bom sentir saudade? Como diz uma música do Nando Reis, "...é bom olhar pra trás e admirar aquilo que soubemos fazer..." Afinal, só sentimos saudade daquilo que foi bom, daquilo que nos marcou, daquilo que um dia nos fez felizes. Então, de certa forma, sentir saudade também é reviver, viver novamente através dos antigos arquivos da nossa infinita memória.
Todavia, acredito que existam dois tipos de saudade. Aquela saudade gostosa, como essa que eu vinha falando e outra saudade mais severa, que se mistura com um pouco de tristeza também. Esta última saudade é aquela que sentimos pelas pessoas que já foram e que não poderão mais voltar. É uma saudade que dói, que machuca por dentro e que temos que conviver com ela, sem nada podermos fazer. Uma saudade que está associada ao sentimento de longitude, de separação, de distância e perda.Uma saudade que... ai meu Deus, que saudade...
Saudade é uma palavra que só existe no nosso idioma. Em inglês existe i missing you, que significa simplesmente "sinto sua falta". Mas saudade é algo muito maior, é muito mais do que simplesmente sentir falta. Vai muito além. Tenho saudade de momentos da minha infância que nunca voltarão, da adolescente irriquieta que fui e de coisas banais como velhas modas e manias que hoje se tornaram ultrapassadas... É bom sentir saudade... Mas de certa forma temos também uma certa sensação de impotência, de não poder voltarmos no tempo, de nunca poder recuperar o que se passou. Cada momento é único, daí a necessidade de sermos intensos, de vivermos e valorizarmos cada segundo, porque nada voltará. Podemos até tentarmos repetir alguns velhos hábitos, retornar amizades, trazer a tona o que antes estava esquecido. Mas nada, nada acontece duas vezes do mesmo jeito e da mesma maneira. Tudo é único. Cada segundo é único. O dia de hoje jamais retornará. Então, depois de passar, tudo o que restará será apenas... SAUDADE!!!



Trago a vocês um texto da minha cronista favorita, a maravilhosa Martha Medeiros:


A DOR QUE DÓI MAIS


Trancar o dedo numa porta dói. Bater com o queixo no chão dói. Torcer o tornozelo dói. Um tapa, um soco, um pontapé, dóem. Dói bater a cabeça na quina da mesa, dói morder a língua, dói cólica, cárie e pedra no rim. Mas o que mais dói é saudade.
Saudade de um irmão que mora longe. Saudade de uma cachoeira da infância. Saudade do gosto de uma fruta que não se encontra mais. Saudade do pai que já morreu. Saudade de um amigo imaginário que nunca existiu. Saudade de uma cidade. Saudade da gente mesmo, quando se tinha mais audácia e menos cabelos brancos. Dóem essas saudades todas.
Mas a saudade mais dolorida é a saudade de quem se ama. Saudade da pele, do cheiro, dos beijos. Saudade da presença, e até da ausência consentida. Você podia ficar na sala e ele no quarto, sem se verem, mas sabiam-se lá. Você podia ir para o aeroporto e ele para o dentista, mas sabiam-se onde. Você podia ficar o dia sem vê-lo, ele o dia sem vê-la, mas sabiam-se amanhã. Mas quando o amor de um acaba, ao outro sobra uma saudade que ninguém sabe como deter.

Saudade é não saber. Não saber mais se ele continua se gripando no inverno. Não saber mais se ela continua clareando o cabelo. Não saber se ele ainda usa a camisa que você deu. Não saber se ela foi na consulta com o dermatologista como prometeu. Não saber se ele tem comido frango de padaria, se ela tem assistido as aulas de inglês, se ele aprendeu a entrar na Internet, se ela aprendeu a estacionar entre dois carros, se ele continua fumando Carlton, se ela continua preferindo Pepsi, se ele continua sorrindo, se ela continua dançando, se ele continua pescando, se ela continua lhe amando.

Saudade é não saber. Não saber o que fazer com os dias que ficaram mais compridos, não saber como encontrar tarefas que lhe cessem o pensamento, não saber como frear as lágrimas diante de uma música, não saber como vencer a dor de um silêncio que nada preenche.

Saudade é não querer saber. Não querer saber se ele está com outra, se ela está feliz, se ele está mais magro, se ela está mais bela. Saudade é nunca mais querer saber de quem se ama, e ainda assim, doer.