domingo, 23 de janeiro de 2011

Intensa, sua melhor definição

Alarmante, dramática, exagerada... Aquela que de tudo faz uma tempestade num copo d'água. Que aumenta os fatos. Que distorce as coisas. Que fantasia, que não vê a realidade com a simplicidade que ela tem. Que olha o mundo com lentes de aumento. Que usa um vocabulário superlativo, que é muito sentimental, que gosta de romances mexicanos. Que chora até por uma propaganda boba dessas que passam na tv. Que se magoa fácil, que faz fiasco, que se desespera de uma hora para outra. Que é sensível, passional e dialeticamente contraditória. Corre, achando que cada minuto pode ser definitivo e irreversível. Tem medo, assim como raiva, amor e todos os sentimentos extremamente humanos. Zela pelas pessoas que ama e esse talvez seja o seu maior defeito, o de querer protegê-los ao extremo e a qualquer custo. Peca por excesso e não é adepta à omissão.

Assim era ela. Sentia, sentia demais, esse era o seu problema. Ah, se pudesse ser um pouco mais racional... Sem tantos sentimentos, mais fria, congelada e inabalável com a vida. Sem tantas convicções, sem se cobrar tanta fidelidade aos seus ideais, metas e sonhos. Quem dera pudesse viver, simplesmente viver, sem o compromisso de sentir. Seria mais equilibrada, seria mais sensata, seria mais otimista.

Seria também menos gente. Lágrimas cairiam menos, mas também sorrisos e gargalhadas seriam descartados. Afetos, seriam dispensáveis, assim como envolvimentos, como amizades, como amores e laços de qualquer espécie. Se esconderia em cavernas que ela mesmo criaria para si e colocaria chaves-tetra e segredos indecifráveis nas portas. Sim, suas cavernas teriam portas blindadas que ela mesmo colocaria. Evitaria a si mesma. Não se incomodaria com a reação dos outros. Teria a solidão como aliada e esconderijos como artes supremas de seu viver. Existiria, respiraria, seu coração bateria, mas não pulsaria. Taquicardia, adrenalina e emoções não fariam parte de sua vida. Passaria pela vida, mas não viveria.

sábado, 22 de janeiro de 2011

Chico... sublime Chico...


Eu praticamente não assisto mais televisão. Nada contra quem goste, mas eu realmente enchi o saco. Cansei de ver sempre as mesmas caras, do jeitão do Faustão e do Gugu no domingo, das apelações das mulheres frutas, das novelas cada vez mais vazias que passam no horário nobre, do Big Brother então... esse não se fala, esse é o campeão do lixo que nos enfiam guela abaixo.
Pois é, mas esses dias estava vendo o Jornal Nacional (sim, alguma coisa temos que assistir, né?!) e vi a chamada no intervalo sobre uma minissérie que seria apresentada inspirada em músicas de Chico Buarque. Pensei: "ôpa, isso parece interessante, vou assistir e ver o que vai ser".
Confesso que não levei muita fé por se tratar de um programa da Globo. Mas resolvi ver igual. E, justiça seja feita, a série me surpreendeu. Só um problema, achei ela curtinha demais, com apenas quatro músicas encenadas em somente quatro episódios. Fiquei querendo mais, mas me contentei com que vi.
O primeiro episódio mostrou a música Ela faz cinema, mas eu acho que deveria ter se chamado Construção. Bem legal, ótima interpretação de Marjorie Estiano. No segundo, foi a vez de Mil perdões, a história bem de acordo com o contexto da música.
Mas a "cereja do bolo", ficou para o gran finale. Os dois últimos episódios foram dirigidos por Bruno Barreto, um com continuação com o outro. No primeiro, foi encenada a música Folhetim, conhecidíssima pela voz da Gal Costa. Conta a história de um cara que está mal no casamento e conhece uma prostituta. Os dois se envolvem, passam uma noite maravilhosa e no dia seguinte, ela simplesmente sai, como uma página virada, descartada do folhetim. Os atores, lindos, emocionantes e excelentes, mandaram ver. Vladimir Brichta e Alinne Moraes foram impressionantes.
Na continuação da história, As Vitrines, o personagem principal, Ari, se percebe apaixonado por ela. Destaque para a cena linda dele vendo-a passar ao som de Vitrines, música sensacional. Bem, não sei bem porque, mas achei as histórias bem legais, profundamente humanas, cheias do amor e da poesia de Chico Buarque, uma bela homenagem ao meu cantor preferido. Sim, algumas coisas foram bem clichês nas histórias, como os finais felizes por exemplo. Mas, se tratando de Rede Globo, foi como o esperado.
Para quem quiser assisitir, ainda dá. É só digitar Amor em quatro atos, no Youtube que ali estão todos os episódios. A parte mais linda, para mim, posto aqui. Mas vale assistir todinhos.
Que a nossa tv tenha mais programas desse tipo e menos realitys, bobagens e idiotices como tem tido. Só a trilha sonora já vale. Chico merece ser sempre lembrado, sua obra toca na alma humana, Chico é político, amante, malandro, trovador e... extremamente humano.