sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Passagem do ano

(Carlos Drummond de Andrade)


O último dia do ano
não é o último dia do tempo.
Outros dias virão
e novas coxas e ventres te comunicarão o calor da vida.
Beijarás bocas, rasgará papéis,
farás viagens e tantas celebrações
de aniversário, formatura, promoção, glória, doce morte com
[sinfonia e coral,
que o tempo ficará repleto e não ouvirás o clamor,
os irreparáveis uivos
do lobo, na solidão.

O último dia do tempo
não é o último dia de tudo.
Fica sempre uma franja de vida
onde se sentam dois homens.
Um homem e seu contrário,
uma mulher e seu pé,
um corpo e sua memória,
um olho e seu brilho,
uma voz e seu eco,
e quem sabe até se Deus...

Recebe com simplicidade este presente do acaso.
Mereceste viver mais um ano.
Desejarias viver sempre e esgotar a borra dos séculos.
Teu pai morreu, teu avô também.
Em ti mesmo muita coisa já expirou, outras espreitam a morte,
mas estás vivo. Ainda uma vez estás vivo,
e de copo na mão esperás amanhecer.

O recurso de se embriagar.
O recurso da dança e do grito,
o recurso da bola colorida,
o recurso de Kant e da poesia,
todos eles... e nenhum resolve.

Surge a manhã de um novo ano.

As coisas estão limpas, ordenadas.
O corpo gasto renova-se em espuma.
Todos os sentidos alerta funcionam.

A boca está comendo vida.
A boca está entupida de vida.
A vida escorre da boca,
lambuza as mãos, a calçada.
A vida é gorda, oleosa, mortal, sub-reptícia.

In: A rosa do povo (1945).

sábado, 13 de novembro de 2010

"O que não me mata, me fortalece"

A frase do título é de um dos meus filósofos favoritos, Friedrich Nietzsche. Para mim, que estou em um momento assim, de superação e combate comigo mesma, esse pensamento cai redondo. Não sei dizer o que tenho, se é depressão, se são os problemas, se é stress, se são muitos compromissos a serem cumpridos... Não sei, talvez tudo isso, talvez nada disso. O que sei é que estou aqui, de um jeito ou de outro, estou aqui. Passando por determinados momentos, mas estou aqui. Ainda estou aqui. E se resisti até aqui, se não morri, sei que vou juntando forças para, através das dificuldades, ficar mais forte. Ficando mais forte, poderei enfrentar batalhas cada vez mais difíceis. Enfrentando essas guerrilhas, poderei vencê-las. A possibilidade do ganho caminha junto com a da perda. E na medida que fico mais forte, mais desafios poderão ser cumpridos. Assim, me dou conta que sou capaz de qualquer coisa, que não há limites pro que se possa conquistar, pro que se possa lutar. Os combates são necessários e não temos como fugir deles. Em um combate, podemos sofrer, podemos sair feridos, mas alguma coisa aprenderemos, nem que seja a nos fortalecermos para a próxima batalha.

Uma das minhas bandas favoritas, que tem sido minha atual trilha sonora, o U2, tem uma música que fala exatamente sobre isso, sobre estar preso em um momento achando que ele não passa, que ele é eterno e que não conseguiremos superá-lo. A música chama-se Stuck in a moment you can't get of. A canção fala assim:

Eu não tenho medo de nada neste mundo
Não há nada que você possa me dizer que eu não tenha ouvido antes
Eu só estou tentando achar uma melodia decente
Uma canção que eu possa cantar em minha companhia

Eu nunca achei que você fosse boba
Mas querida, olhe para você
Você tem que se levantar, carregar seu próprio peso
Estas lágrimas não vão a lugar algum, baby

Você tem que se endireitar
Você se prendeu em um momento e agora você não pode sair dele
Não diga que depois vai estar melhor agora que você está presa em um momento
E você não pode sair dele

Eu não irei abandonar, as cores que você traz
Mas as noites que você encheu de fogos de artifício
Eles a deixaram vazia
Eu ainda estou encantado com a luz que você trouxe a mim
Eu ainda ouço por seus ouvidos, e por seus olhos posso ver

E você é tal boba
Por se preocupar dessa maneira
Eu sei que é difícil, e você nunca tem o bastante
Do que você não precisa realmente agora... meu oh meu

Você tem que se endireitar
Você se prendeu em um momento e agora você não pode sair dele
Oh amor olhe para você agora
Você se tem prendido em um momento e agora você não pode sair dele

Eu estava inconsciente, meio adormecido
A água está morna até que você descubra como é profunda...
Eu não estava pulando... para mim era uma queda
É uma longa descida até o nada

Você tem que se endireitar
Você se prendeu em um momento e agora você não pode sair dele
Não diga que depois vai estar melhor agora
Você está preso em um momento e você não pode sair dele

E se a noite corresse acima
E se o dia não durasse
E se nosso caminho devesse hesitar
Ao longo da passagem pedregosa

E se a noite corresse acima
E se o dia não durará
E se nosso caminho devesse hesitar
Ao longo da passagem pedregosa
É apenas um momento
Esse tempo irá passar.
(Bono e The Edge)


Lindo, não?! E , mais do que lindo, verdadeiro. Nada é permanente. Heráclito já dizia que tudo flui. E assim é. Tudo passa. A vida tem um quê de dialética: precisamos partir de nossas teses, até nossas antíteses, até chegarmos a uma síntese. Ou seja, precisamos nos confrontar, nos destruir, nos reconstruir, para um dia chegarmos mais fortes no fim disso tudo. Mais fortes e mais sintetizados. Mais plenos, digamos assim. As coisas boas passam. E as difíceis também. Ao menos eu espero...

Esses dias vi um trecho de Caio Fernando Abreu publicado por uma grande amiga minha no Facebook dela, a Ana. Tem tudo a ver com esse meu momento. Diz assim:

"Vai passar, tu sabes que vai passar. Talvez não amanhã, mas dentro de uma semana, um mês ou dois, quem sabe? O verão está aí, haverá sol quase todos os dias, e sempre resta essa coisa chamada 'impulso vital'. Pois esse impulso às vezes cruel, porque não permite que nenhuma dor insista por muito tempo, te empurrará quem sabe para o sol, para o mar, para uma nova estrada qualquer e, de repente, no meio de uma frase ou de um movimento te surpreenderás pensando algo assim como 'estou contente outra vez'"
(Caio Fernando Abreu)

E, para concluir a postagem, já que iniciei meus pensamentos com Nietzsche, concluo com outra frase dele também. Diz assim:

"É preciso ter o caos dentro de si para dar luz a uma estrela bailarina"

E assim vou eu pela vida, em procura de minha estrela dançante...


segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Sobre o imprevisível


A vida nos prega peças... E essas peças não aparecem de madrugada, no meio da escuridão, quando temos medo. Acontecem em dias ensolarados, às duas da tarde, justamente quando nos sentimos mais seguros... E assim, de uma hora para outra, sua vida simplesmente vira de cabeça para baixo. O que era, não é mais ou pode desaparecer a qualquer momento. As certezas foram embora e o que resta é o que, ironicamente, sempre foi a única verdade, resta-nos o imprevisível.
Nesse contexto de imprevisibilidade, meu olhar muda. Passo a olhar a vida de uma nova forma. E essa forma não me dá garantia de nada. Não garante que eu esteja aqui amanhã, não garante que eu faça planos, não garante que tudo vai acabar bem no final.

Assim, vivendo um dia de cada vez nesse tempo difícil, vamos levando. Vamos valorizando cada minuto, cada presença, cada gesto, porque, por mais clichê que pareça, é verdade, pode ser o último. Chega o dia em que temos que nos separar, que temos que dizer adeus. O limite entre a vida e a morte é uma linha muito tênue, muito frágil, que pode se romper a qualquer momento. Desta forma, cada palavra é um tesouro, cada olhar pode ser o último e cada momento sem repetição. Triste, não?! Mas é verdade...
A vida é bem assim e passamos ela inteirinha nos iludindo pensando que temos tempo, que poderemos, que poderemos, que poderemos... Tudo balela. Nos enganamos com o argumento que é possível prever algumas coisas, que temos certezas científicas e dados estatísticos ao nosso favor. Tudo bobagem. Desde a previsão de tempo que a meteorologia se equivovou, até a mais indubitável certeza científica, todas podem ser refutadas. Não existem certezas, não existem verdades absolutas, não existe nada que nos garanta coisa alguma. Tanto a natureza pode mudar as regras do jogo a qualquer momento como também nossas vidas quietas, pacatas podem dar viradas de 360° tanto para melhor quanto para o pior, para o mais inesperado. A única coisa que temos de certa é o imprevisível. Hoje estou aqui, amanhã poderei não estar mais e disso ninguém se escapa. Não temos controle de nada, vivemos no devir de nossas próprias existências. Onde leva isso tudo? Não me perguntem, não tenho a mínima ideia.
Mas sei que no meio do caminho, sim, podemos fazer alguma coisa. Se é para amar, que seja hoje. Se é para dizer que seja agora. Se é para sentir, que seja sempre. Se é para viver, que seja intenso. Sem esperar para amanhã, muito menos para depois de amanhã. Pode não dar tempo.

Ao enxergarmos nossas vidas como um caminho, como um processo sem um produto final e concluso, aceitamos também a imprevisibilidade como uma aliada e também como uma inimiga. O imprevisível está ali, caminhando lado a lado conosco, querendo nós ou não. Ao menos uma coisa é certa: ao mesmo tempo que o imprevisível nos derruba, também torna a vida emocionante. Se soubéssemos todos nós qual seria nossa caminhada e que esta seria percorrida em uma linha reta, sem curvas, pedras no caminho ou surpresas, certamente não teria graça nenhuma trilharmos esta estrada.


segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Encontros

Em um mundo tão grande como o nosso, tenho certeza de que as pessoas não se aproximam por acaso. Pessoas totalmente diferentes e pessoas com afinidades inexplicáveis, se aproximam por quê? Talvez porque este ser que conhecemos tenha nos despertado algo que nós mesmo não conhecíamos, talvez porque encontramos no outro características que temos em nós, ou mesmo por razões indecifráveis. O que sei é que os encontros são cada vez mais raros. Cada vez mais nos isolamos em nossas próprias cavernas e ficamos mais reservados. Neste mundo de atrocidades acontecendo a qualquer hora, amizade, amor, solidariedade começam a ser mais e mais raros. O mais seguro mesmo é cada um viver pra si e pros seus. Conviver começa a ser perigoso ou dá trabalho. Ficamos, assim, individualistas.
Que lástima do nosso tempo! Não tem nada que se compare a um verdadeiro encontro. Como bem disse Vinícius de Moraes, "
A vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida". Não existe nada mais pleno do que um bom encontro. Um simples olhar empático, uma mão carinhosa, uma palavra amiga... Um encontro de almas, de pessoas que se aceitam, que falam a mesma língua, possuem subjetividades semelhantes, que se admiram e se reconhecem. Lembro de uma frase de Fritz Perls, que dizia:

"Eu não estou neste mundo para viver as suas expectativas. E você não está neste mundo para viver as minhas. Você é você, e eu sou eu, e se, por acaso, nós nos encontrarmos, será lindo. Se não, nada se pode fazer "

Depois da fala desse autor, não tenho nada mais a declarar. Pode ser que nos encontremos, mas se não, se for pra ser um encontro de faz-de-conta hipócrita e cínico, onde fingimos de ser o que não somos, deixa assim, melhor ficar cada um no seu canto mesmo. Melhor mesmo é preservar os pouquíssimos amigos que já encontrei e os encontros verdadeiros e raros que já passaram pela minha vida.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Contrato com o tempo

Li esses dias no jornal Folha de São Paulo uma declaração da maravilhosa Lygia Fagundes Telles, dizendo "Sou da idade da pedra lascada. A velhice é um horror. Eu era uma jovem tão bonita. Mas para não envelhecer você tem que morrer jovem. E ninguém quer morrer jovem."
Daí, eu, com a plenitude de meus trinta anos, fiquei pensando e admirando a sabedoria desta escritora. O que ela fala é simples e lógico: ninguém, exceto os suicidas e os depressivos, quer morrer jovem. Quando isso acontece, é uma tragédia, é contra as leis da natureza. "Ninguém quer a morte, só saúde e sorte", como diria Gonzaguinha. Todos nós queremos viver. E viver requer envelhecimento.
Não que eu esteja me sentindo velha, não é isso. Pelo contrário, estou numa fase ótima, em que me conheço melhor e sinto a reallização de coisas que até então não estavam em meu alcance. Simplesmente admirei profundamente a visão realista de Lygia. Ela está com 87 anos e segue ativa, no momento reeditando sua obra. Vejo ela como um exemplo de alguém que está viva e não apenas respirando. Diz ela "só não morri por causa da literatura". E é verdade, a vida para ela tem um sentido, tem um porquê.
Daí, fico pensando no quanto gastamos com cremes rejuvenecedores, com roupas modernas e fórmulas milagrosas que prometem que possamos ficar magras, esbeltas e jovens. Pois bem, na verdade tudo isso não passa de um invólucro, uma embalagem que passamos para outros. Uma imagem que queremos vender, não importa pra quem. Nisso eu também não me escapo, é claro que quero preservar minha imagem e aparecer bem na foto. "Sou humano e nada do que é humano me é estranho", sábias palavras de Terêncio. Desde os primórdios os homens almejam uma fonte da juventude. Por quê? Porque juventude tem muito a ver com estética também.
Fora isso, vivemos em uma sociedade em que as pessoas de uma certa idade já não tem muito valor. Fica mais difícil conseguir um emprego e ter seus direitos preservados. E os aposentados então? Aqui em Pelotas o que vejo são idosos aglomerados nos transportes urbanos, mofando em filas de atendimento de saúde... Fora o baixíssimo rendimento que o nosso governo os paga para que possam comprar remédios, se alimentar, pagar suas contas e... viver! Irônico, não?
Pois é... pra quem lê hoje pode parecer um assunto isolado e distante de seu cotidiano. Todavia, até quando? Será que daqui a uns 20, 30 anos este assunto não lhe será mais familiar? Porque o tempo passa - e passa igual para todos. E se não podemos lutar contra o tempo, se não podemos ir contra as leis da natureza, que sejamos amigos dele então! Que possamos traçar um contrato com ele, que o respeitemos e que ele nos respeite. Eu assino embaixo deste contrato, esperando que o tempo também faça sua assinatura. Com registro em cartório e firma reconhecida, como diria o velho Vinícius de Moraes. Respeitar o tempo implica em aceitá-lo, conviver com sua presença e não ignorá-lo. Talvez assim o tempo nos gratifique com um corpo menos doente, com uma mente mais atualizada, com ideias novas e menos cansadas e com mais, muito mais, sempre mais VIDA!

P.S.: Caetano tem uma linda oração sobre o tempo em forma de canção. Vale a pena apertar play!

domingo, 25 de julho de 2010

A vida é feita de escolhas

Escolhas. Lógico, a vida é feita delas. Como boa existencialista, creio nisso fielmente. E sou devota às minhas escolhas. Me dou o direito de escolher sim, por mais que minha escolha envolva o risco de não dar certo. Pois, só assim sou responsável por minha vida. Não a entrego nas mãos de Deus, nem do destino, nem de ninguém. Como diria Sartre, o homem é condenado a escolher. Condenado, porque não temos como fugir disso. Mesmo quando escolhemos a quietude, mesmo quando escolhemos deixar a vida nos levar, mesmo quando escolhemos deixar que Deus ou um outro ser supremo ou mesmo o simples acaso escolha por nós, mesmo assim estamos escolhendo.
Escolhemos sempre, desde que nascemos. Escolhemos nossos amiguinhos na escola, escolhemos nossa cor favorita, a roupa que vamos usar. E nossas escolhas vão além de escolhas banais, como o que vamos comer no almoço. Nossas escolhas envolvem uma vida inteira e alteram ainda a vida dos outros que estão ao nosso redor. Quando temos que escolher algo que envolve uma decisão importante, parece que aí fica mais evidente o quanto temos esse poder de jogar tudo pro alto e virar o jogo, na hora que quisermos.
Nossas escolhas envolvem também nossa capacidade de ser. Nossa capacidade de sermos éticos, de sermos desleais, de sermos cruéis. Nossa capacidade de sermos um ser humano melhor, nossa capacidade de usarmos nosso jeitinho brasileiro e nossa capacidade de sermos apáticos e esperararmos que as coisas caiam do céu. Sempre podemos escolher melhorar a situação que estamos inseridos, por mais que às vezes pareça não termos saída. Podemos escolher quem seremos, se seremos bons ou se seremos maus. Podemos escolher um caminho mais difícil, menos seguro, porém mais libertador. Podemos escolher sorrir e levar a vida menos a sério. Podemos escolher lutar feito loucos para melhorar nossas condições. Podemos, podemos e podemos. Podemos, inclusive, pensarmos que não temos escolhas e que nossas vidas não passam de condicionamentos clássicos e operantes. Sim, podemos.

Uma questão que gosto de pensar é na questão do se. Se eu não tivesse feito tal coisa, se eu não resolvesse tomar a iniciativa, se eu tivesse escolhido outro caminho. Por onde eu andaria? Não sei, mas sei que minhas escolhas influenciaram diretamente para que eu estivesse hoje aqui. Minhas escolhas fazem com que eu seja, com que eu exista e me construa.
Se existem fatalidades? Sim, existem; pois implicam nas escolhas dos outros. Mas sempre posso escolher como eu vou reagir diante do que me acontece. E quando escolho minha reação, quando escolho meu caminho, automaticamente descarto outro.
Portanto, escolho!!!


quarta-feira, 30 de junho de 2010

Sei lá

Ah... sei lá... tem dias que me sinto meio assim. Assim, sei lá. Assim sem saber de mais nada, sem saber direito o que quero, sem saber direito o que acredito, sem saber bem o que sinto, sem saber nada...
Não sei o que tenho, não sei de nada. A única certeza: sei lá! O único sentido: sei lá também! Pra que saber? Sei lá, ora!
A vida tem desses momentos assim, penso eu. Momentos de incerteza, de medo, de vacilos. E esses momentos não são tão negativos assim. Eles nos fazem refletir e valorizar o lado positivo do que temos. Yin e yang, claro e escuro, doce e amargo, dia e noite. Extremos que não existiriam sem o outro. Ou nos fazem encontrarmos com nossos monstros interiores para que possamos conhecê-los e lidarmos com eles da melhor forma possível.
Viver não é brincadeira, não é fácil. Mas também é emocionante, é imprevisivelmente lindo. Então, quando estou meio assim, meio assim sei lá, sei que há de ser passageiro. Há de ter um dia maravilhoso me esperando amanhã (ou depois de amanhã ou ainda na semana que vem), ensolarado e tão radiante quanto todos os sonhos possíveis. Então, o melhor mesmo a fazer é pensar um sei lá mesmo! Sei lá como vou resolver meus problemas, sei lá o que há de acontecer, sei lá! O que não posso controlar não adianta me pré-ocupar. Já aquilo que posso, isso sim, isso faço questão de fazer minha parte. E diga-se de passagem, da melhor forma possível. Faço o que posso, faço tudo o que posso, embora o tudo seja bem pouco perto do tanto que deveria. Mas isso é outra história. Por hoje, me basta o meu sei lá para resolver meus problemas. Quem sabe amanhã o sei lá se transforme em uma nova certeza ou ao menos numa certeza provisória. Quem sabe? Quem pode saber? Ah, SEI LÁ!!!

domingo, 6 de junho de 2010

Intrusa

Desculpe. Eu não sou daqui. Estou no lugar errado. Entrei sem querer, não pude evitar. Mas também não consigo sair... Sou, então, um peixe fora d'água. Quero voltar para meu habitat, quero... Quero pessoas mais parecidas comigo. Não que eu seja um modelo a ser seguido, não é isso. Mas me sinto diferente. Não sou bem como os outros. Não consigo me identificar, não consigo entender, não consigo me inserir... Não estou preocupada com a novela das oito, não gosto de futebol, não vou pra baladas, não sei quem ganhou o Big Brother. Também não sei bem o que está na moda, não sei as últimas das celebridades e não gosto de Lady Gaga. Não tenho religião, não tenho orientação, não tenho direção.

Pois é... sou um ser meio estranho. Gosto do meu espaço particular, da minha vida simples, de minhas músicas antigas. Gosto do meu tênis All Star batido, da minha calça jeans surrada, da minha casa bagunçada. Gosto de gente meio estranha, assim como eu. Respiro filosofia, estou aqui de passagem e não sei para onde vou. Sou estrangeira, mesmo sendo nativa. Sou meio sem graça, meio apagada, mas não sou feliz pela metade. Quando amo sou inteira, quando estou sou intensa, quando vivo sou eu mesma... Muito prazer, esta sou eu!



sexta-feira, 28 de maio de 2010

Por uma loucura necessária

Sabe, às vezes penso que devemos ter um certo grau de loucura para conseguir sobreviver num mundo tão insano quanto o nosso. Quem totalmente racional poderia viver neste planeta?! Um mundo onde todo tipo de atrocidades são cometidas a todo momento, onde as coisas mais inexplicáveis simplesmente acontecem... Tudo é muito louco! É muito louco ver crianças na rua passando fome, pessoas matando por um celular ou qualquer outra bugiganga... Homens-bomba, neonazismo, pai que mata filha... meu Deus! Ainda bem que me resta esta loucura necessária!
Com isso, nos fala maravilhosamente Lygia Fagundes Telles:
“Selecionei as neuroses mais comuns e que podem nos levar além da fronteira convencionada: necessidade neurótica de agradar os outros. Necessidade neurótica de poder. Necessidade neurótica de explorar os outros. Necessidade neurótica de realização pessoal. Necessidade neurótica de despertar piedade. Necessidade neurótica de perfeição e inatacabilidade. Necessidade neurótica de um parceiro que se encarregue da sua vida – ô! Deus – mas desta última necessidade só escapam mesmo os santos. E algumas feministas radicais.” — in: A Disciplina do Amor
Daí, quem se escapa? Todos nós temos, no mínimo, uma dessas loucuras. Como bem diria Caetano "De perto ninguém é normal". Todos temos alguma loucura. É preciso um pouco de loucura. Num mundo como esse só ela pode nos oferecer um refúgio, um abrigo, uma válvula de escape.
Contudo, a própria Lygia adverte:
“Solução melhor é não enlouquecer mais do que já enlouquecemos, não tanto por virtude, mas por cálculo. Controlar essa loucura razoável: se formos razoavelmente loucos não precisaremos desses sanatórios porque é sabido que os saudáveis não entendem muito de loucura. O jeito é se virar em casa mesmo, sem testemunhas estranhas. Sem despesas.” — in: A Disciplina do Amor
Portanto, enlouqueçamos! Mas não não tanto a ponto de depender de atendimento psiquiátrico o tempo todo! Mais Platão, menos prozac! Enlouqueçamos com a loucura da filosofia, afinal de contas, todo mundo diz que ela "é coisa pra louco"!
Lembro do Cazuza falando
"Eu vou pagar a conta do analista pra nunca mais ter que saber quem eu sou". Mas nisso eu discordo dele, saber quem eu sou é o máximo! Disso eu não quero fugir... Sócrates foi mesmo muito sábio quando propôs o seu célebre "Conhece-te a ti mesmo". Mas concordo com o Cazuza, esta busca pelo conhecimento de si também é uma forma de loucura. Quanto mais me conheço, mais conheço minhas loucuras...
Pois bem! Já que somos loucos mesmo, enlouqueçamos então! Um brinde à loucura! Um brinde às loucuras saudáveis!Enlouqueçamos... Enlouqueçamos de amor, enlouqueçamos de vida!Enlouqueçamos num lindo dia de sol, que possamos nos permitir sermos felizes! Façamos algumas loucuras razoáveis de vez em quando! Lembro de Nietzsche também lá no seu famoso
Assim falou Zaratustra dizendo "Há sempre alguma loucura no amor. Mas há sempre um pouco de razão na loucura." Por isso, enlouqueçamos!


P.S.: Agradecimentos especiais à querida amiga Michele Moura, por ter me apresentado os textos da Lygia e por tantas e tantas conversas "loucas" :)
P.S. II: para quem quiser "enlouquecer mais um pouco", ninguém melhor do que Erasmo de Rotterdan para falar sobre o assunto, em seu maravilhoso Elogio da Loucura. O texto está disponível em http://bandapoetica.files.wordpress.com/2008/02/erasmo_de_rotterdam_elogio_da_loucura.pdf


domingo, 23 de maio de 2010

Meu eu nas palavras

Acho que nunca falei antes o quanto este espaço me faz bem. Aqui consigo mostrar meu lado mais íntimo, mais escondido. Escrever me faz tão bem... Me proporciona tantas alegrias, tantos encontros... Aqui conheci pessoas maravilhosas, fiz novos amigos, embora virtuais. E faz com que eu me conheça, com que eu me ache... Aqui me mostro, me sinto despida... e isso é tão bom!
Assim, esta postagem é tão somente para isso: para agradecer as visitas, para retribuir o carinho nos comentários e dar um retorno para aqueles que me seguem. Este espaço existe para mim, mas não existe sem vocês.
Escrever é tão somente isto: passar meu eu para as palavras e fazer com que a linguagem expresse por mim coisas que nem eu sei explicar. Embora soe um tanto clichê, escrever é, então, escutar a voz do coração. Por isso escrevo, por isso estou aqui.


"Escrever é procurar entender, é procurar reproduzir o irreproduzível, é sentir até o último fim o sentimento que permaneceria apenas vago e sufocador." (Clarice Lispector)

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Rousseau e o tempo

"Como passamos rapidamente sobre esta terra! O primeiro quarto da vida passou antes que soubéssemos seu emprego; o último quarto ainda passa depois que deixamos de desfrutá-lo. Primeiro não sabemos viver; logo já não o podemos, e, no intervalo que separa estas duas extremidades inúteis, três quartos do tempo que nos sobra são consumidos pelo sono, pelo trabalho, pela dor, pela obrigação e pelos sofrimentos de toda a espécie. A vida é curta, menos pelo pouco tempo que dura do que porque desse pouco tempo de quase nenhum dispomos para poder saboreá-la. Por mais que o momento da morte esteja afastado daquele do nascimento, a vida é sempre curta demais quando esse espaço é mal preenchido."
In Livro IV de Emílio, P. 271

sábado, 15 de maio de 2010

Dilemas de uma consumidora de fast-food



Sumi... Minha vida anda ultimamente tão corrida que mal consigo tempo para respirar... A correria do dia-a-dia me sufoca e me aprisiona. O dia começa e me envolvo em uma tarefa e em outra e em outra... e quando vejo já acabou, já se passou o dia, já se passou uma semana, já se passou um mês... E assim a vida segue, amanhã vou acordar de novo e sair para estudar, trabalhar e ir à luta pela vida.
Vinte e quatro horas tem o dia. Mas só?! Atualmente sou defensora de um dia que tenha no minimo trinta e duas horas... Daí a gente percebe que o grande bem, o grande produto da era que estamos inserido é justamente esse: tempo. Tudo o que pode nos oferecer rapidez e eficiência nos atrai, tudo o que pode nos poupar esforços e facilitar a nossa vida. Compramos equipamentos e bugigangas tecnológicas que nos prometem um pouco mais de rapidez nos processos do cotidiano e nos permitem trazer o que em troca? Ele mesmo, o tempo.
Vivemos atualmente em um mundo constante em que tudo é um verdadeiro fast-food. Precisamos de comida rápida, precisamos de um trânsito eficiente, de uma internet banda larga hiper veloz, de ligeireza e agilidade. Mas será que toda essa loucura contemporênea, que toda essa corrida pra não-sei-o-quê vai nos levar a algum lugar? Será que essa é a evolução que nossa humanidade quis? Será que a geração do século XXI vai realmente viver ou vai passar pela vida correndo, sem sequer ter vivido um único minuto?
Tenho medo às vezes de ter vivido minha vida inteira correndo, sem tempo para apreciar as coisas que realmente importam. Um sol se pondo, um filme desses da Sessão da Tarde que tratam de assuntos bem bobinhos, um chimarrão, um bom livro... essas coisas que aparentemente parecem tão inúteis mas que na verdade são o que realmente valem. São o que podem me tirar deste mundo louco de instantaneidade e fugacidade. Vivo correndo, estou sempre atrasada, trabalho demais, tenho obrigações demais, mas não quero ser pertencente a este mundo. Quero e preciso de um mundo paralelo, para onde eu possa fugir de vez em quando e me esconder das exigências de tantas obrigações.

"Quero assistir ao sol nascer

Ver as águas dos rios correr

Ouvir os pássaros cantar

Eu quero nascer, quero viver..."

sábado, 24 de abril de 2010

Metal Contra as Nuvens - Legião Urbana

Já falei anteriormente aqui sobre como as músicas exercem influências na vida da gente. Pois é, algumas, em especial, me dão forças e trasmitem meus momentos. E, atualmente, estou num momento totalmente Metal Contra as Nuvens.
E o que é esse momento? Para mim se resume a um período de lutas constantes, superação e construção. A música é uma verdadeira obra-prima. Vejo nela uma profundidade de elementos que nos levam a pensar sobre nossas batalhas diárias, sobre nossos monstros interiores, sobre as nossas guerras perdidas e ganhas... Sobre a vida, enfim, que tem desses instantes: de solidão, luta e dificuldades...
Legião Urbana fez parte da minha geração e me acompanha até hoje. E, consegue transmitir meus sentimentos e impressões do cotidiano. Não consigo decidir qual das quatro partes da música mais gosto. A primeira parte começa assim "Não sou escravo de ninguém, Ninguém é senhor do meu domínio..." e por aí já ganho forças e me sinto senhora de mim mesma. Exitem sim, relações de poder, mas em nós mesmos ainda exercemos um certo domínio. Na segunda parte, com um som bem metal e agressivo, temos um momento de revoltas e confrontos, que enfrentamos diariamente em nossas vidas, seja com os outros, com as tarefas que temos que cumprir ou simplesmente com nós mesmos. Na terceira parte, para mim uma das mais tocantes da música, tem a minha estrofe favorita, um verdadeiro hino para quando as coisas realmente pegam "Não me entrego sem lutar, tenho, ainda, coração, não aprendi a me render, que caia o inimigo então". Essa parte fala de vencer obstáculos, de seguir em frente, de ter força, de não se deixar abater. De não desistirmos, de não nos entregarmos, de seguirmos sendo fortes. Eu, particularmente, acho este trecho simplesmente lindo. Por fim, a quarta e última parte da música termina com otimismo e confiança de que tudo o que lutarmos terá valido a pena: "E nossa história não estará pelo avesso assim, sem final feliz. Teremos coisas bonitas pra contar. E até lá, vamos viver, Temos muito ainda por fazer, Não olhe pra trás, Apenas começamos. O mundo começa agora, Apenas começamos." E assim seguimos, a vida continuará, e toda a nossa batalha terá, de alguma forma, valido a pena. Alguma coisa devemos ter, certamente, aprendido com nossas vidas. Não adianta nada lamentarmos o que se passou, temos que encararmos o presente vivendo, da melhor forma possível. E o ciclo continuará, cem cessar. Um eterno retorno, como diria Nietzsche. Afinal de contas, "Eu sou metal, raio, relâmpago e trovão..." Eu sou, com toda a plenitude do meu ser.

Eis a letra na íntegra e o vídeo da música para encerrar a postagem:

Metal contra as Nuvens

Composição: Dado Villa-Lobos/ Renato Russo/ Marcelo Bonfá

I

Não sou escravo de ninguém
Ninguém, senhor do meu domínio
Sei o que devo defender
E, por valor eu tenho
E temo o que agora se desfaz.

Viajamos sete léguas
Por entre abismos e florestas
Por Deus nunca me vi tão só
É a própria fé o que destrói
Estes são dias desleais.

Eu sou metal, raio, relâmpago e trovão
Eu sou metal, eu sou o ouro em seu brasão
Eu sou metal, me sabe o sopro do dragão.

Reconheço meu pesar
Quando tudo é traição,
O que venho encontrar
É a virtude em outras mãos.

Minha terra é a terra que é minha
E sempre será
Minha terra tem a lua, tem estrelas
E sempre terá.

II

Quase acreditei na sua promessa
E o que vejo é fome e destruição
Perdi a minha sela e a minha espada
Perdi o meu castelo e minha princesa.

Quase acreditei, quase acreditei

E, por honra, se existir verdade
Existem os tolos e existe o ladrão
E há quem se alimente do que é roubo
Mas vou guardar o meu tesouro
Caso você esteja mentindo.

Olha o sopro do dragão...

III

É a verdade o que assombra
O descaso que condena,
A estupidez, o que destrói

Eu vejo tudo que se foi
E o que não existe mais
Tenho os sentidos já dormentes,
O corpo quer, a alma entende.

Esta é a terra-de-ninguém
Sei que devo resistir
Eu quero a espada em minhas mãos.

Eu sou metal, raio, relâmpago e trovão
Eu sou metal, eu sou o ouro em seu brasão
Eu sou metal, me sabe o sopro do dragão.

Não me entrego sem lutar
Tenho, ainda, coração
Não aprendi a me render
Que caia o inimigo então.

IV

- Tudo passa, tudo passará...

E nossa história não estará pelo avesso
Assim, sem final feliz.
Teremos coisas bonitas pra contar.

E até lá, vamos viver
Temos muito ainda por fazer
Não olhe pra trás
Apenas começamos.
O mundo começa agora
Apenas começamos.

terça-feira, 13 de abril de 2010

Duas flores unidas pelo mesmo galho

Perdoem-me as outras mães, mas a minha é a melhor!
Ela é simplesmente um anjo em forma de mulher. Eu que estou acostumada a vir aqui, escrever sobre tudo um pouco, sobre ela me faltam as palavras para descrevê-la.
Então, vou tentar descrever o que sinto por ela.


Mãe, eu te amo. Te amo com o meu mais profundo sentimento. Tenho muito orgulho de ser tua filha, de ter vindo à vida através de ti. Sou imensamente grata por tudo o que fizeste por mim nesses meus anos de existência: pelos cuidados, pela compreensão, pela ajuda sempre imediata, pela amizade e sobretudo pelo amor que me dedicas. Se existe uma boa prova de amor incondicional, este é desempenhado pela minha mãe. Ela que já passou pelas minhas birras de criança, pelas minhas revoltas de adolescente rebelde e pelas minhas teimosias da vida adulta. E mesmo assim, ela é sempre a mesma. Sempre linda, bela, firme e forte. Alguém totalmente do bem, alguém que tenta ajudar a todos e tenta sempre ser uma pessoa melhor. Mãe, teu exemplo é um eterno aprendizado.
Nesse dia do teu aniversário, quero desejar-te toda a felicidade do mundo, tudo que há de melhor! Somos e sempre seremos, como tu mesma dizes, duas flores unidas pelo mesmo galho...



Te amo, muito!!! Feliz Aniversário!!! Como presente, te trago as lindas palavras de Castro Alves:

As duas flores

São duas flores unidas,
São duas rosas nascidas
Talvez no mesmo arrebol,
Vivendo no mesmo galho,
Da mesma gota de orvalho,
Do mesmo raio de sol.

Unidas, bem como as penas
Das duas asas pequenas
De um passarinho do céu...
Como um casal de rolinhas,
Como a tribo de andorinhas
Da tarde no frouxo véu.

Unidas, bem como os prantos,
Que em parelha descem tantos
Das profundezas do olhar...
Como o suspiro e o desgosto,
Como as covinhas do rosto,
Como as estrelas do mar.

Unidas... Ai quem pudera
Numa eterna primavera
Viver, qual vive esta flor.
Juntar as rosas da vida
Na rama verde e florida,
Na verde rama do amor!

Castro Alves

Tua filha, Lê.

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Poesia filosófica

Apresento hoje uma linda poesia, escrita por um grande amigo meu, o Ricardo Sacharuk. Sacharuk, poeta gaúcho, como gosta de se apresentar, é também um eterno filósofo, como podemos perceber com esta poética recheada de conceitos filosóficos. Lançou recentemente seu primeiro livro, Uma Outra Gnose. Para quem quiser conhecer mais os escritos dele, seu blog está na minha lista de links recomendados. Não tenho dúvidas de que todos aqueles que passeiam pelo universo da filosofia, irão se identificar em um momento ou outro desta poesia.

Envergadura moral

Ergui pontes para eudaimonia
sobre colunas de poesia
ao encontro da felicidade

encontrei a suma verdade
e a verdade verdadeira
sem votos de castidade
ou qualquer outra besteira

Eu calcei argumento na lógica
silogisticamente estrambótica
para dar sustento à moral

sou politicamente animal
aristotélicamente normal
mais um cidadão sorumbático

Entretanto sou meio socrático
sem preocupação hermenêutica
derrubo incertezas pela maiêutica
não entendo esse mundo de plástico

Fizeram do ethos deontologia
cobraram de mim envergadura moral
e não encontrei essa tal
no minha cartilha de filosofia

sou eu o motor imóvel
o resto tudo é ignóbil
qualquer conceito de decência
procede do ente e não da essência.


Wasil Sacharuk
março2010

quarta-feira, 17 de março de 2010

Música de Botequim: Kleiton e Kledir


Um botequim para mim é um lugar onde as pessoas se reunem para conversar abertamente, estar entre amigos, tomar um café ou um drink, filosofar um pouco (porque filosofar é preciso, é fundamental) e... ouvir e apreciar belas músicas!

Pois bem, quando falo música, me refiro não somente a sons quaisquer. Música pra mim são vibrações sonoras que nos elevam ao sublime, que despertam em nós o que nos há de melhor, que realçam os sentimentos, o que há de mais subjetivo em nós, aqueles espaços interiores onde só nós mesmos temos acesso e às vezes nem sabemos que existem.
Então trago hoje uma homenagem a músicos maravilhosos, dos quais sou fã de carteirinha, acompanho e aprecio o trabalho. São nada mais, nada menos do que a dupla Kleiton e Kledir.
Pelotenses assim como eu (com muito orgulho), esses caras são um talento danado! Começaram a carreira com o extinto grupo Almôndegas, depois se transformaram nesta dupla incrível, tentaram alguns trabalhos solo, estiveram parados por algum tempo e agora, em 2009, depois de uns bons anos, voltaram com um álbum recheado de músicas inéditas, com o título Autorretrato. Tive a felicidade de comprar o dvd e ter esta obra maravilhosa autografada por eles! O dvd acontece em forma de documentário, explicando cada canção e nos tornando mais íntimos deles. No final do dvd, temos a sensação de que eles são bons e velhos amigos!
Então, é cada música melhor do que a outra! Não tenho como eleger uma ou outra porque sou fissurada, amo realmente todas! Mas como destaque merecem as faixas:
- Autorretrato, onde cada um fala um pouco de si, tal como o título da canção propõe, disponível em http://www.youtube.com/watch?v=osL7qe0vBPc ;
- Pelotas
, que foi a música que me motivou comprar o dvd, de tão linda, tão emocionante que é, que fala desta linda cidade daqui do sul pela qual eles (e eu) somos verdadeiramente apaixonados, é um verdadeiro hino, disponível em http://www.youtube.com/watch?v=3W00YCgOVPU ;
-Eva
, uma canção divertida e bem humorada, com um clipe divertidíssimo, disponível em http://www.youtube.com/watch?v=cB4bE2NwfC4 ;
- Só pra te ver, uma das minha preferidas, e que toca o coração daqueles que já experimentaram a dádiva de ter um amor incondicional;
- Polca Louca, com seu som dançante e super alto astral.
Mas volto a dizer: o dvd é muito bom do início ao fim!!! Músicas no mesmo gabarito das antigas e eternas, como Paixão, Vira Virou, Deu pra ti...
Fica dada a dica de hoje! Muita música boa para o nosso botequim! Um brinde!!!



Eu e Kleiton na Bibliotheca Pública Pelotense, no Lançamento do DVD Autorretrato (ficou faltando o Kledir na foto)


sábado, 13 de março de 2010

Ah... as estrelas...







Estrelas no céu...

No meio da imensidão

E nós aqui...
No meio da multidão

Elas brilham, irradiam luzes
Perfeitas, sublimes perfeitas
E nós?
Totalmente imperfeitos...

Elas têm visão privilegiada
Enxergam-nos de cima e iluminam nossos caminhos,
mesmo nas noites mais escuras.
E nós?
Será que conseguimos nos enxergarmos?

Será que sequer percebemos o infinito céu de nós mesmos?

Inútil comparação.

Nunca seremos como elas.
Nunca estaremos em uma constelação.
Mas cada um de nós tem uma incrível parcela do seu poder.
Cada um de nós pode e deve seguir o exemplo das estrelas
e seguir suas vidas irradiando energia cintilante,
mostrando nosso lado mais belo,
apresentando nosso poder pessoal
e iluminando caminhos obscuros.




segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

E por falar em saudade...

Tudo bem. Confesso. Sempre fui muito saudosista. Daquelas ao extremo mesmo.
Sabem o que eu fiz numa madrugada dessas? Resolvi colocar meu antigo videocassete pra funcionar. Sim, sou nostálgica até mesmo em relação a equipamentos desatualizados, adoro estilo retrô, adoro ouvir toca-discos e meus discos de vinil tocando músicas antigas, adoro antiguidades e todos esses cacarecos antigos... Resolvi então desencalhar umas velhas fitas VHS e olhei todas... Olhei a minha formatura, os três primeiros anos de vida do meu filhote e revivi momentos que ficaram para trás, tão mofados quanto as fitas que desencalhei do fundo do baú... Fiquei até as 6hs da manhã olhando tudinho! E pensando na vida... Em mim, nas pessoas que passaram pela minha vida e aparecem nas gravações e que hoje sequer sei onde andam, naqueles que já se foram mas que por amor estarão sempre perto, no meu filho que hoje está tão grande a ali aparece um bebê, o meu bebê... e em um monte de nostalgias, hehehe! Como o tempo passa, não é?! Nós aparecemos ali com uma carinha que hoje não temos mais, com corpos que também não são mais os mesmos e com roupas que hoje eu talvez não usaria.
Tudo bem, eu sei. Uma hora dessas tenho que filmar vídeos novos, com novos registros. Temos inevitavelmente que olhar para frente. A vida passa, sem cessar. Mas, confesse
você também, de vez em quando vai dizer que não é bom sentir saudade? Como diz uma música do Nando Reis, "...é bom olhar pra trás e admirar aquilo que soubemos fazer..." Afinal, só sentimos saudade daquilo que foi bom, daquilo que nos marcou, daquilo que um dia nos fez felizes. Então, de certa forma, sentir saudade também é reviver, viver novamente através dos antigos arquivos da nossa infinita memória.
Todavia, acredito que existam dois tipos de saudade. Aquela saudade gostosa, como essa que eu vinha falando e outra saudade mais severa, que se mistura com um pouco de tristeza também. Esta última saudade é aquela que sentimos pelas pessoas que já foram e que não poderão mais voltar. É uma saudade que dói, que machuca por dentro e que temos que conviver com ela, sem nada podermos fazer. Uma saudade que está associada ao sentimento de longitude, de separação, de distância e perda.Uma saudade que... ai meu Deus, que saudade...
Saudade é uma palavra que só existe no nosso idioma. Em inglês existe i missing you, que significa simplesmente "sinto sua falta". Mas saudade é algo muito maior, é muito mais do que simplesmente sentir falta. Vai muito além. Tenho saudade de momentos da minha infância que nunca voltarão, da adolescente irriquieta que fui e de coisas banais como velhas modas e manias que hoje se tornaram ultrapassadas... É bom sentir saudade... Mas de certa forma temos também uma certa sensação de impotência, de não poder voltarmos no tempo, de nunca poder recuperar o que se passou. Cada momento é único, daí a necessidade de sermos intensos, de vivermos e valorizarmos cada segundo, porque nada voltará. Podemos até tentarmos repetir alguns velhos hábitos, retornar amizades, trazer a tona o que antes estava esquecido. Mas nada, nada acontece duas vezes do mesmo jeito e da mesma maneira. Tudo é único. Cada segundo é único. O dia de hoje jamais retornará. Então, depois de passar, tudo o que restará será apenas... SAUDADE!!!



Trago a vocês um texto da minha cronista favorita, a maravilhosa Martha Medeiros:


A DOR QUE DÓI MAIS


Trancar o dedo numa porta dói. Bater com o queixo no chão dói. Torcer o tornozelo dói. Um tapa, um soco, um pontapé, dóem. Dói bater a cabeça na quina da mesa, dói morder a língua, dói cólica, cárie e pedra no rim. Mas o que mais dói é saudade.
Saudade de um irmão que mora longe. Saudade de uma cachoeira da infância. Saudade do gosto de uma fruta que não se encontra mais. Saudade do pai que já morreu. Saudade de um amigo imaginário que nunca existiu. Saudade de uma cidade. Saudade da gente mesmo, quando se tinha mais audácia e menos cabelos brancos. Dóem essas saudades todas.
Mas a saudade mais dolorida é a saudade de quem se ama. Saudade da pele, do cheiro, dos beijos. Saudade da presença, e até da ausência consentida. Você podia ficar na sala e ele no quarto, sem se verem, mas sabiam-se lá. Você podia ir para o aeroporto e ele para o dentista, mas sabiam-se onde. Você podia ficar o dia sem vê-lo, ele o dia sem vê-la, mas sabiam-se amanhã. Mas quando o amor de um acaba, ao outro sobra uma saudade que ninguém sabe como deter.

Saudade é não saber. Não saber mais se ele continua se gripando no inverno. Não saber mais se ela continua clareando o cabelo. Não saber se ele ainda usa a camisa que você deu. Não saber se ela foi na consulta com o dermatologista como prometeu. Não saber se ele tem comido frango de padaria, se ela tem assistido as aulas de inglês, se ele aprendeu a entrar na Internet, se ela aprendeu a estacionar entre dois carros, se ele continua fumando Carlton, se ela continua preferindo Pepsi, se ele continua sorrindo, se ela continua dançando, se ele continua pescando, se ela continua lhe amando.

Saudade é não saber. Não saber o que fazer com os dias que ficaram mais compridos, não saber como encontrar tarefas que lhe cessem o pensamento, não saber como frear as lágrimas diante de uma música, não saber como vencer a dor de um silêncio que nada preenche.

Saudade é não querer saber. Não querer saber se ele está com outra, se ela está feliz, se ele está mais magro, se ela está mais bela. Saudade é nunca mais querer saber de quem se ama, e ainda assim, doer.


sábado, 23 de janeiro de 2010

Só, mas bem acompanhada...

Tem horas em que necessito estar em companhia de um certo alguém... Preciso ficar só, preciso escutar uma música, preciso limpar a mente. Às vezes fico assim antes de dormir, em outros momentos em um caminhar pela rua ou mesmo sentada (como agora) na frente desta tela mágica do meu computador que me permite extravasar meu eu interior. Isso para mim é uma verdadeira necessidade. Se faz urgente ficar somente comigo mesma. Gosto de ficar assim, na verdade sempre fui um tanto introspectiva. Estudei filosofia com essa finalidade, de tentar entender ainda mais, de desvendar os mistérios da razão humana. Mas nesses momentos, os racionalismos para mim pouco importam. Gosto simplesmente de sentir. Sentir o que tiver para sentir. Tristezas, alegrias, anseios, saudade, paz... sou uma avalanche de sentimentos... e a cada hora se fazem presentes outros e outros... e assim me descubro viva...
Na verdade, posso ser um tanto narcisista, mas gosto de mim! Gosto do meu mundo particular, dos meus livros, das minhas canções, de tudo aquilo que me identifico. E daí não fico tão só. Estão comigo presentes outras pessoa
s: Vinícius de Moraes e suas lindas poesias, Caetano, Gil e tantos outros que embalam minhas emoções e todos aqueles que se fizeram e se fazem presentes na minha trajetória através das minhas lembranças, sentimentos e recordações. Não que eu não goste de estar com os outros, é claro que gosto! Mas também agradeço por alguns momentos de solidão. Uma solidão gostosa, em que tento me descobrir mais e mais, o que me faz feliz e o que não me faz. Mas mesmo nesses instantes nunca estou só, estão sempre comigo as pessoas que amo, porque não há como ser sem a presença de outros. Os outros contribuem para que eu seja. Não sou ninguém sem meus afetos. Fecho os olhos então e não vejo nada além daquilo que sinto. E sinto tanta coisa... e penso em tanta coisa... em mim, no caminho que tracei até aqui, nas pessoas que cativei e que fui cativada, no que me tornei e no que estou me tornando... na verdade nunca chego a grandes conclusões. Simplesmente gosto de ficar assim, em companhia de um certo alguém: sozinha, mas bem acompanhada de minha própria companhia.