segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Templos da minha memória

"Eu ouço sempre os mesmos discos
Repenso as mesmas ideias
O mundo é muito simples
Bobagens não me afligem
Você se cansa do meu modelo
Mas juro, eu não tenho culpa
Eu sou mais um no bando
Repito o que eu escuto
E eu não te entendo bem

E quantos uniformes ainda vou usar
E quantas frases feitas vão me explicar
Será que um dia a gente vai se encontrar
Quando os soldados tiram a farda pra brincar

A minha dança, o meu estilo
E pouco mais me importa
Eu limpo as minhas botas
Não sou ninguém sem elas
Você se espanta com o meu cabelo
É que eu saí de outra história
Os heróis na minha blusa
Não são os que você usa
E eu não te entendo bem..."

(Uniformes, Leoni/ Léo Jaime)

Amo essa música... E como ela me acompanha há algumas décadas, trago ela aqui para iniciar uma postagem sobre essa que eu sou, identificada aí pela letra dessa música. Bem, sou um ser assim mesmo. Ouço as mesmas músicas há anos, gosto de acomodações, não sou do tipo que muda os móveis de lugar, o constante me traz uma ideia de segurança que, sei bem, só existe mesmo dentro da minha cabeça.

Até aí tudo bem. O problema é que a vida não tem nada de constante e permanente. O mundo gira, e por mais que tentamos eternizar certas coisas, eternizar momentos, eternizar pessoas, um dia você descobre que não tem jeito mesmo, que tudo acaba mais cedo ou mais tarde.

Ver alguém que você ama ir embora aos poucos, ter que fazer a mudança da casa que você deu seus primeiros passos e viveu toda a sua vida, se olhar no espelho e perceber que o tempo realmente passou, ver seu filho cada vez mais crescido são algumas das coisas que confrontam você com o tempo.

Em meio a isso tudo, é preciso saber encerrar ciclos. São necessários rituais de passagem, despedidas, sensação de perda, sentimentos que inevitavelmente aparecem nessas horas. É preciso deixar o passado ir embora, deixá-lo partir, levando um pouco de nós e nós levando um pouco dele.

Num certo dia, o cotidiano lhe incomoda, noutro você percebe que o cotidiano não existe mais. Passou! Simplesmente passou. Passou uma fase boa, passou outra não tão boa e no fim ainda estamos aqui, repensando as mesmas ideias.

Por outro lado, fecho meus olhos e tudo é tão vivo... Nada passou, tudo ainda está exatamente aqui, onde sempre esteve e deveria estar. O bom da memória é que guardamos o que realmente marcou, o que de fato foi devidamente importante e não acumulamos lixo em nossas recordações.

Mas não é fácil deixar o passado ir embora. Por mais que o futuro possa reservar milhões de coisas intensamente maravilhosas, isso significa perder, ter a consciência que aquela determinada época aconteceu e cumpriu sua função e outras estão por vir.

Assim como a lua que tem suas fases, nós também as temos. Por mais que possamos retomar algumas coisas, alguns guardados dos nossos baús, alguns cacos, algumas fotos e escritos amarelados pelo tempo, nunca poderemos viver novamente da mesma forma. Alguma coisa ficou pra traz e não temos controle nenhum sobre isso. O que nos resta é nós mesmos um dia ficarmos também para traz, depois do dia que formos embora, que nossos filhos também forem, nossos netos e bisnetos, idem... Quem lembrará de nós? O que restará da casa onde nascemos e crescemos, cujas paredes guardam nossas histórias?

De nós, não sei. Mas da casa onde nasci e cresci, já sei. De algumas pessoas que convivemos, acho que também sei. E não adianta, só resta deixá-los ir, seguir seu curso, cumprir sua missão.

Por outro lado, percebo que o lugar da minha memória é exatamente aqui, onde estou, onde estarei. Carrego comigo todos os lugares que visitei, todas as pessoas que amei, todas as fases que vivi e todas aquelas que fui um dia. Carrego inclusive a casa da minha memória.


2 comentários:

  1. Lindo texto, eu amei.
    Também sou assim, de gostar do constante, escuto sempre as mesmas músicas, as mais antigas, gosto das minha coisas do jeito que são e que estão, a mudança me dá medo. MAs a mudança pode sim ser boa, depende de nós para extrairmos as coisas boas dela.

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