sexta-feira, 28 de maio de 2010

Por uma loucura necessária

Sabe, às vezes penso que devemos ter um certo grau de loucura para conseguir sobreviver num mundo tão insano quanto o nosso. Quem totalmente racional poderia viver neste planeta?! Um mundo onde todo tipo de atrocidades são cometidas a todo momento, onde as coisas mais inexplicáveis simplesmente acontecem... Tudo é muito louco! É muito louco ver crianças na rua passando fome, pessoas matando por um celular ou qualquer outra bugiganga... Homens-bomba, neonazismo, pai que mata filha... meu Deus! Ainda bem que me resta esta loucura necessária!
Com isso, nos fala maravilhosamente Lygia Fagundes Telles:
“Selecionei as neuroses mais comuns e que podem nos levar além da fronteira convencionada: necessidade neurótica de agradar os outros. Necessidade neurótica de poder. Necessidade neurótica de explorar os outros. Necessidade neurótica de realização pessoal. Necessidade neurótica de despertar piedade. Necessidade neurótica de perfeição e inatacabilidade. Necessidade neurótica de um parceiro que se encarregue da sua vida – ô! Deus – mas desta última necessidade só escapam mesmo os santos. E algumas feministas radicais.” — in: A Disciplina do Amor
Daí, quem se escapa? Todos nós temos, no mínimo, uma dessas loucuras. Como bem diria Caetano "De perto ninguém é normal". Todos temos alguma loucura. É preciso um pouco de loucura. Num mundo como esse só ela pode nos oferecer um refúgio, um abrigo, uma válvula de escape.
Contudo, a própria Lygia adverte:
“Solução melhor é não enlouquecer mais do que já enlouquecemos, não tanto por virtude, mas por cálculo. Controlar essa loucura razoável: se formos razoavelmente loucos não precisaremos desses sanatórios porque é sabido que os saudáveis não entendem muito de loucura. O jeito é se virar em casa mesmo, sem testemunhas estranhas. Sem despesas.” — in: A Disciplina do Amor
Portanto, enlouqueçamos! Mas não não tanto a ponto de depender de atendimento psiquiátrico o tempo todo! Mais Platão, menos prozac! Enlouqueçamos com a loucura da filosofia, afinal de contas, todo mundo diz que ela "é coisa pra louco"!
Lembro do Cazuza falando
"Eu vou pagar a conta do analista pra nunca mais ter que saber quem eu sou". Mas nisso eu discordo dele, saber quem eu sou é o máximo! Disso eu não quero fugir... Sócrates foi mesmo muito sábio quando propôs o seu célebre "Conhece-te a ti mesmo". Mas concordo com o Cazuza, esta busca pelo conhecimento de si também é uma forma de loucura. Quanto mais me conheço, mais conheço minhas loucuras...
Pois bem! Já que somos loucos mesmo, enlouqueçamos então! Um brinde à loucura! Um brinde às loucuras saudáveis!Enlouqueçamos... Enlouqueçamos de amor, enlouqueçamos de vida!Enlouqueçamos num lindo dia de sol, que possamos nos permitir sermos felizes! Façamos algumas loucuras razoáveis de vez em quando! Lembro de Nietzsche também lá no seu famoso
Assim falou Zaratustra dizendo "Há sempre alguma loucura no amor. Mas há sempre um pouco de razão na loucura." Por isso, enlouqueçamos!


P.S.: Agradecimentos especiais à querida amiga Michele Moura, por ter me apresentado os textos da Lygia e por tantas e tantas conversas "loucas" :)
P.S. II: para quem quiser "enlouquecer mais um pouco", ninguém melhor do que Erasmo de Rotterdan para falar sobre o assunto, em seu maravilhoso Elogio da Loucura. O texto está disponível em http://bandapoetica.files.wordpress.com/2008/02/erasmo_de_rotterdam_elogio_da_loucura.pdf


domingo, 23 de maio de 2010

Meu eu nas palavras

Acho que nunca falei antes o quanto este espaço me faz bem. Aqui consigo mostrar meu lado mais íntimo, mais escondido. Escrever me faz tão bem... Me proporciona tantas alegrias, tantos encontros... Aqui conheci pessoas maravilhosas, fiz novos amigos, embora virtuais. E faz com que eu me conheça, com que eu me ache... Aqui me mostro, me sinto despida... e isso é tão bom!
Assim, esta postagem é tão somente para isso: para agradecer as visitas, para retribuir o carinho nos comentários e dar um retorno para aqueles que me seguem. Este espaço existe para mim, mas não existe sem vocês.
Escrever é tão somente isto: passar meu eu para as palavras e fazer com que a linguagem expresse por mim coisas que nem eu sei explicar. Embora soe um tanto clichê, escrever é, então, escutar a voz do coração. Por isso escrevo, por isso estou aqui.


"Escrever é procurar entender, é procurar reproduzir o irreproduzível, é sentir até o último fim o sentimento que permaneceria apenas vago e sufocador." (Clarice Lispector)

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Rousseau e o tempo

"Como passamos rapidamente sobre esta terra! O primeiro quarto da vida passou antes que soubéssemos seu emprego; o último quarto ainda passa depois que deixamos de desfrutá-lo. Primeiro não sabemos viver; logo já não o podemos, e, no intervalo que separa estas duas extremidades inúteis, três quartos do tempo que nos sobra são consumidos pelo sono, pelo trabalho, pela dor, pela obrigação e pelos sofrimentos de toda a espécie. A vida é curta, menos pelo pouco tempo que dura do que porque desse pouco tempo de quase nenhum dispomos para poder saboreá-la. Por mais que o momento da morte esteja afastado daquele do nascimento, a vida é sempre curta demais quando esse espaço é mal preenchido."
In Livro IV de Emílio, P. 271

sábado, 15 de maio de 2010

Dilemas de uma consumidora de fast-food



Sumi... Minha vida anda ultimamente tão corrida que mal consigo tempo para respirar... A correria do dia-a-dia me sufoca e me aprisiona. O dia começa e me envolvo em uma tarefa e em outra e em outra... e quando vejo já acabou, já se passou o dia, já se passou uma semana, já se passou um mês... E assim a vida segue, amanhã vou acordar de novo e sair para estudar, trabalhar e ir à luta pela vida.
Vinte e quatro horas tem o dia. Mas só?! Atualmente sou defensora de um dia que tenha no minimo trinta e duas horas... Daí a gente percebe que o grande bem, o grande produto da era que estamos inserido é justamente esse: tempo. Tudo o que pode nos oferecer rapidez e eficiência nos atrai, tudo o que pode nos poupar esforços e facilitar a nossa vida. Compramos equipamentos e bugigangas tecnológicas que nos prometem um pouco mais de rapidez nos processos do cotidiano e nos permitem trazer o que em troca? Ele mesmo, o tempo.
Vivemos atualmente em um mundo constante em que tudo é um verdadeiro fast-food. Precisamos de comida rápida, precisamos de um trânsito eficiente, de uma internet banda larga hiper veloz, de ligeireza e agilidade. Mas será que toda essa loucura contemporênea, que toda essa corrida pra não-sei-o-quê vai nos levar a algum lugar? Será que essa é a evolução que nossa humanidade quis? Será que a geração do século XXI vai realmente viver ou vai passar pela vida correndo, sem sequer ter vivido um único minuto?
Tenho medo às vezes de ter vivido minha vida inteira correndo, sem tempo para apreciar as coisas que realmente importam. Um sol se pondo, um filme desses da Sessão da Tarde que tratam de assuntos bem bobinhos, um chimarrão, um bom livro... essas coisas que aparentemente parecem tão inúteis mas que na verdade são o que realmente valem. São o que podem me tirar deste mundo louco de instantaneidade e fugacidade. Vivo correndo, estou sempre atrasada, trabalho demais, tenho obrigações demais, mas não quero ser pertencente a este mundo. Quero e preciso de um mundo paralelo, para onde eu possa fugir de vez em quando e me esconder das exigências de tantas obrigações.

"Quero assistir ao sol nascer

Ver as águas dos rios correr

Ouvir os pássaros cantar

Eu quero nascer, quero viver..."