sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Auto-definição

Tarefa extremamente complexa. Na verdade, acho que nunca conseguirei chegar a uma definição de mim mesma que abranja tudo o que eu penso ser, tudo o que posso ser, ou tudo o que um dia fui. Sou uma e sou tantas... Composta por inúmeros paradoxos, abismos inenarráveis. Às vezes sou de um jeito, às vezes sou de outro. E em muitos momentos sinto saudade da pessoa que já fui e que em mim não existe mais. Em outros, me percebo mergulhada no que sou, no meu cotidiano, nesta que me apresento hoje. E ainda, me sinto capaz de vislumbrar àquela que posso ser, que em potência um dia poderá aflorar... Sinto saudade da criança alegre, da adolescente irriquieta... e sentirei saudade daqui há 10 ou 20 anos desta que sou hoje, certamente.

Para mim essa é uma das grandes riquezas do ser humano: a capacidade de ser e de se transformar. Tal como uma lagarta que sofre metamorfose e se transforma em borboleta, também temos essa possibilidade. Estar em constante mudança, em eterno movimento... essa é a vida! E Sócrates, sabiamente, sabia o quanto é difícil se autoconhecer, se autodefinir... Talvez por isso propunha em sua máxima Conhece-te a ti mesmo que buscássemos realizar este exercício. Eu ainda continuo sem saber quem eu sou. Um dia, quem sabe, porventura eu saiba... Ou nunca... Mas o mais certo é que eu passe minha existência inteira me questionando sobre isso sem chegar a nenhuma resposta concreta...

Deixo vocês com a linda poesia de Ferreira Gullar:

TRADUZIR-SE

Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.

Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.

Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.

Uma parte de mim
almoça e janta:
outra parte
se espanta.

Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.

Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.

Traduzir-se uma parte
na outra parte
- que é uma questão
de vida ou morte -
será arte?

Um comentário:

  1. O assunto de auto-conhecimento me intriga muito. Tua forma de expressão é muito boa. Acho que todos sofrementos desse mal que é aprender a conviver com as nossas metamorfoses. Inclusive tenho que elogiar o poema escolhido, mesmo porque é um dos meus prefiridos ... gostei muito de vê-lo no post. Parabéns (;

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