quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Deve existir

Deve existir um lugar
Onde a paz impere, soberana
Onde se possa rolar na grama
Explorar os sentidos, elevar a alma
Onde eu possa ser eu mesma

Deve existir um lugar
Onde exista amizade verdadeira
Um dia de sol e um bom chimarrão
E que, com alguém especial,
eu possa descobrir as maravilhas de um bom encontro

Deve existir um lugar
Onde eu possa sentar e fazer o que a cuca mandar
Sem limites físicos, sociais, nem culturais

Será que existe esse lugar?
Será que esse lugar é aqui?
Será que encontraremos esse lugar?

Creio que, antes de pensarmos em paraíso
Ou antes de fazermos nossas malas rumo à Pasárgada,
Devemos procurar esse lugar
Começando pelo nosso próprio endereço pessoal.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Profissão: professora

Sou professora. E como professora, me vejo por vezes permeada de questões do tipo como aprendemos? e como ensinamos? Penso que um professor deve ter sempre em foco tais questões para poder desempenhar seu papel aliado à reflexões sobre a sua prática. Me pergunto constantemente se o método que utilizo é o mais adequado para ensinar ou ainda se seria melhor outra prática para que meu aluno pudesse aprender e apreender o conteúdo em questão.
John Dewey dizia que "a educação deve ser a própria vida e não uma preparação para a vida".
Desta forma, o processo educacional deve estar vinculado à vida do aluno, deve fazer sentido para quem está estudando. Caso contrário, estaremos, como diria Paulo Freire, simplesmente realizando "depósitos" de informações.
No entanto, não é tarefa fácil exercer esta profissão. Ainda mais no Brasil. Atualmente o Governo Federal tem se preocupado em estimular os estudantes para o exercício da profissão docente. Todavia, não seria melhor, ao invés de estimular, oferecer melhores condições de trabalho e remunerações mais dignas?
Eu, particularmente, amo minha profissão. Procuro exercê-la da melhor forma possível. Me pergunto constantemente se meu exercício está sendo bem desempenhado. E sei que não é tarefa fácil. É extremamente comum vermos a Síndrome de Burnout tomar conta mais e mais dos educadores. Cansaço, desânimo, e falta de estímulo para o trabalho. Mas, com tudo isso, ainda vejo motivos para comemorar. O processo pedagógico me permite maravilhas. E, sobretudo, questionamentos e a possibilidade de aprender com o processo. Pois, como nossos alunos, somos todos devires. Somos pessoas. Estamos em constante transformação, estamos sempre nos tornando, não somos seres estáticos. E esse inacabamento permite que se pense, que se esteja, que se viva e se construa. E assim vou eu, no meio disso tudo, tentando simplesmente ser: ser alguém melhor, ser uma profissional melhor e contribuir, nem que seja de uma forma mínima, na construção de outros seres.


terça-feira, 20 de outubro de 2009

Diferença versus igualdade

Será que um dia enfim a humanidade irá desenvolver a capacidade de se respeitar, de se aceitar mutuamente? Será que chegará o dia em que todos poderão enxergar o outro com o entendimento de que somos todos diferentes e, por sermos diferentes, temos culturas diferentes, hábitos diferentes, crenças diferentes etc, etc, etc? Procuro pensar que sim, que esse dia um dia chegará. Penso assim por ser mais confortável, por ainda acreditar na humanidade e pelo meu lado otimista ser ainda forte. No entanto, sei bem que estamos muito longe disso tudo. Muito longe de olhar o outro com olhos "normais", sem preconceitos, sem estereótipos e sem piadas.
É lamentável pensar que décadas depois do fim dos horrores do holocausto, barbárie causada unicamente pelo etnocentrismo, por um monstro disfarçado de homem julgar a sua raça "superior" a outra; ainda encontramos por aí neonazistas, skinheads e seus bandos. Mas esses ainda são explícitos. Mostram as suas crueldades. E acabam, ou deveriam acabar, um dia em uma cadeia. E os demais, que com caras de bonzinhos e que se dizem sem nenhum preconceito e que ainda discriminam homosexuais, negros, judeus, pessoas portadoras de deficiência? Para esses não há punição. Esses andam aí, por toda a parte... Todo mundo conhece algum. Eles aparecem contando alguma "piada de português", ou de gays, ou racial. Sempre se achando superior a outros. Mas aí é que eu pergunto: o que faz alguém ser superior a outra pessoa? Não são todos humanos, errantes e cheios de defeitos? Sim, são. No fim das contas, todos iguais. Iguais, mas diferentes. Extremamente diferentes. Então simplesmente não consigo entender o porquê de alguém se achar melhor do que outro alguém.

Uma dica: o filme "O menino do pijama listrado" é ótimo e mostra os horrores de um campo nazista de extermínio através dos olhares de duas crianças. Vale a pena!

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Ser mulher...

Assisti um dia desses ao filme "Divã", de José Alvarenga Júnior, baseado na obra de Martha Medeiros. Simplesmente amei! Já tinha lido o livro há alguns anos atrás e morri de rir e ao mesmo tempo me deparei com questões bem existenciais tratadas no filme. Entre elas me fez pensar sobre: questões relativas com o "ser mulher" e com a alma feminina. Em como conciliar a profissão que escolhemos com uma dupla jornada de trabalho (doméstica e extradoméstica), casamento, maternidade, desejos, estética e viver de bem com a vida e consigo mesma. Em como ser uma pessoa feliz, mesmo diante das intempéries que a vida trás. Recomendo! Muito humor e ao mesmo tempo muita emoção, porque Mercedes, a protagonista, é uma mulher como eu, como você ou como alguma mulher que você conheça.
E ser mulher é bom demais!
Dentre tantas, não poderia deixar de citar Simone de Beauvoir, grande mulher, filósofa existencialista, mulher de Jean-Paul Sartre e sua obra "O segundo sexo", uma verdadeira revolução na visão do papel das mulheres na sociedade: "Não se nasce mulher, torna-se mulher", diz Simone;

Lou Salomé que, além de inteligente e bela, simplesmente arrasou com os corações de Paul Rée e Nietzsche (poderosa ela, não?), viveu com intensa paixão pela vida e dizia: "Ouse, ouse tudo! Seja na vida o que você é, aconteça o que acontecer. Não defenda nenhum princípio, mas algo de bem mais maravilhoso:algo que está em nós e que queima como o fogo da vida!";

E Hannah Arendt, amor de Heidegger, uma grande filósofa (apesar de não gostar deste título) e pensadora de questões sobre o conceito de mal e de seu próprio tempo.

Finalizo trazendo um trecho do livro "Divã" de Martha Medeiros, que por sinal me identifico bastante e homenageando a todas as mulheres, todas aquelas que sentem, se emocionam, sofrem, batalham, lutam e são mulheres, no verdadeiro, literal e mais belo sentido da palavra!
"Não sei bem o que dizer sobre mim. Não me sinto uma mulher como as outras. Por exemplo, odeio falar sobre empregadas e liquidações. Me sinto esquisita à beça usando um lencinho amarrado no pescoço. Mas segui todos os mandamentos de uma boa menina: brinquei de boneca, tive medo do escuro e fiquei nervosa com o primeiro beijo.
Quem me vê caminhando na rua, de salto alto e delineador, jura que sou tão feminina quanto as outras: ninguém desconfia do meu anti socialismo interno.
Adoro massas cinzentas, detesto cor-de-rosa. Penso como um homem, mas sinto como mulher. Não me considero vítima de nada. Sou autoritária, teimosa e impulsiva. Peça para eu arrumar uma cama e estrague meu dia. Vida doméstica é para os gatos....
Tenho um cérebro masculino, como lhe disse, mas isso não interfere na minha sexualidade, que é bem ortodoxa. Já o coração sempre foi gelatinoso: Faz eu dizer tudo ao contrário do que penso: nessas horas não sei onde vão parar minhas idéias viris.
Sou tantas que mal consigo me distinguir.
Sou estrategista, batalhadora, porém traída pela comoção. Num piscar de olhos fico terna, delicada. Acho que sou promíscua. São muitas mulheres numa só, e alguns homens também."
Martha Medeiros


domingo, 4 de outubro de 2009

Utopia



Gostaria de poder me despir de todas as minhas possíveis aparências e que o mundo pudesse me ver exatamente como sou. Assim mesmo, com todas as minhas imperfeições, com todos os meus sentimentos mais humanos, simplesmente com os pensamentos e os sentimentos que tenho... Como diria Nietzsche, humano, demasiado humano...
Gostaria de poder enxergar as outras pessoas também assim: sem máscaras, sem rótulos, sem exercer papéis... Sem ser pessoas diferentes em diferentes lugares...
Como seria o mundo se fosse assim? Certamente seria um caos, pois temos sentimentos nem sempre simpáticos em relação às outras pessoas. Neste ponto, aquele sorriso sem graça que damos quando algo nos incomoda muito, apenas para manter a cordialidade, para que tudo fique sempre "bem" não teria sentido. Seríamos todos transparentes, incolores e necessariamente verdadeiros...
Já sei, é óbvio, isto é impossível. A moral exige que não nos mostremos. Fingimento é necessário para se viver em sociedade. Não tem como ser cem por cento verdadeiro sem magoar ninguém. Somos seres contraditórios: amamos e detestamos, nos mostramos e nos escondemos... Então chegamos a um paradoxo entre autenticidade e verdade. Quem dá mais?
Mas como não estou pensando em nada real, sigo pensando em como seria este mundo... E posso até ser ingênua, mas me seduz muito imaginar como seria este comprometimento com a verdade. Verdade com o outro, com o mundo e consigo mesmo. Congruência... Sinceridade... Lealdade...
Tudo o que é humano me atrai muito. Não só o lado belo, mas também o defeituoso. Sem carcaças, sem maquiagens, simplesmente alma... Alma e ser...

Pra ser sincero
(Engenheiros do Hawaii)

Pra ser sincero eu não espero de você
Mais do que educação,
Beijo sem paixão,
Crime sem castigo,
Aperto de mãos,
Apenas bons amigos...

Pra ser sincero eu não espero que você
Minta
Não se sinta capaz de enganar
Quem não engana a si mesmo

Nós dois temos os mesmos defeitos
Sabemos tudo a nosso respeito
Somos suspeitos de um crime perfeito,
Mas crimes perfeitos não deixam suspeitos.

Pra ser sincero eu não espero de você
Mais do que educação,
Beijo sem paixão,
Crimes sem castigo,
Aperto de mãos,
Apenas bons amigos...

Pra ser sincero não espero que você
Me perdoe
Por ter perdido a calma
Por ter vendido a alma ao diabo

Um dia desses
Num desses encontros casuais
Talvez a gente se encontre
Talvez a gente encontre explicação

Um dia desses
Num desses encontros casuais
Talvez eu diga, minha amiga,
Pra ser sincero, prazer em vê-la
Até mais...

Nós dois temos os mesmos defeitos

Sabemos tudo a nosso respeito
Somos suspeitos de um crime perfeito
Mas crimes perfeitos não deixam suspeitos.